sábado, 24 de janeiro de 2009

Manuel Francisco dos Santos, Garrincha

Dominou, quase por inteiro, o Mundial de 1962. Era um menino grande de pernas arqueadas, corpo franzino, para quem a vida só fazia sentido se tivesse uma bola nos pés e um adversário para driblar. Manuel Francisco dos Santos, Garrincha para o bem e para o mal, terá sido mesmo o maior driblador da história do futebol. Não dispunha de reportório vasto mas o que tinha era suficiente para marcar diferenças. A finta era, normalmente, a mesma, todos o sabiam, até aqueles que tinham por missão marcá-lo. Mas passava sempre.
Entre os maiores jogadores de sempre, ninguém como ele, chegou onde chegou, apenas e só à custa do génio, do instinto, da intuição.
Nunca passou de um jogador da bola, ingénuo, despreocupado, e mesmo assim foi um dos maiores artistas que o futebol conheceu.
Participara na conquista do Mundial de 1958 como miúdo que saiu do banco ao fim do segundo jogo (juntamente com Pelé). Chegava ao Chile com o estatuto de grande talento e arma assustadora.
No segundo encontro da prova, frente à Checoslováquia, Pelé, a estrela da companhia, lesionou-se com alguma gravidade. Não jogaria mais naquela edição. Amarildo substituiu-o bem, mas foi Garrincha, por instinto, como sempre, quem assumiu a responsabilidade de fazer esquecer o rei, assim no jeito de quem diz a todos, mas principalmente aos companheiros de equipa, «se não está Pelé, não se preocupem, estou cá eu». E esteve sempre.
Participou na esmagadora maioria dos 14 golos apontados pelo escrete, três dos quais da sua autoria, dois deles na meia-final com o Chile (vitória por 4-2), e foi indiscutivelmente a grande figura da prova. O Brasil deve-lhe o segundo título mundial. Essa dívida, a que teremos de juntar os momentos mágicos que proporcionou ao longo da carreira e a personalidade frágil, infantil mesmo, que sempre evidenciou, transformou-o num mito entre os compatriotas.
Quando deixou de jogar, tornou mais visíveis os traços do seu carácter e a tendência natural para uma vida desregrada, que terminou cedo e mal.
Mané Garrincha, a alegria do povo, o mestre do drible, protagonista principal de muitas tardes e noites de glória para o Botafogo e para o Brasil, acabaria os seus dias na miséria, entregue ao álcool, vítima da teia que deixou crescer à sua volta. Recordado pelo génio, Garrincha permanece no coração dos brasileiros como o mais genuíno dos seus heróis. O futebol em geral deve-lhe respeito e admiração. E o agradecimento que os talentos únicos justificam.


Vídeo - Garrincha


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