terça-feira, 5 de maio de 2009

Mundial 1990 (Itália) - Alemanha tricampeã

Para esquecer. É a conclusão global do Campeonato do Mundo de Itália (1990), em que, para a história, não apresentou uma grande selecção e no qual, a figura maior, foi Lothar Mathäus, facto em si mesmo indiciador da pouca qualidade da prova. O alemão, que não possuía o talento dos predestinados, potenciou o seu futebol à custa de muito trabalho físico, dedicação ao jogo e inteligência na forma como assimilou os ensinamentos dos vários mestres que o orientaram, desde a primeira hora. Foi, muito provavelmente, a primeira grande figura de um Mundial que não obedecia a requisitos estéticos, à magia e ao génio dos artistas mais brilhantes. Nada contra o eterno Mathäus, que muito trabalhou para chegar ao topo do Mundo, que foi grande à sua custa, que conseguiu tudo pelo trabalho. Mas a concepção do que é um jogador para a lenda obriga a maior exigência de classe natural, daquela arte que nasce incorporada.
O Mundial de Itália marca um retrocesso evidente: menos golos, menos magia, mais equipas a jogar para não perder e até esse pormenor de ter mostrado menos Maradona. O astro que iluminara o México-86 estava com mais quatro anos e dava sinais de menor frescura, apesar de manter o estatuto de maior esperança e ponto de referência intocável da selecção argentina, que em 1990, por sua vez, tinha ainda menos qualidade que quatro anos antes. Apesar de tudo, Maradona ainda deixou as suas marcas. Nos oitavos-de-final, foi dele o rasgo que permitiu a Caniggia eliminar o Brasil. Um jogo paradigmático do certame: domínio total dos brasileiros, ataque contínuo, três vezes a bola no ferro da baliza de Goycoechea e vitória argentina na única investida, digna desse nome, à baliza de Taffarel.
Os italianos foram cumprindo a obrigação, jogando bom futebol, a espaços. A certa altura, descobriram o goleador inesperado, Salvatore Schillaci, que havia de tornar-se paixão do povo. O percurso dos organizadores da prova permitiu-lhes atingir as meias-finais. O adversário era a Argentina, o local do jogo era Nápoles, dos amores de Diego Armando. Um jogo Intenso, decidido a favor dos sul-americanos, na marcação de grandes penalidades (Goycoechea decisivo, como já tinha sido com a Jugoslávia).
Excelente o percurso da Inglaterra de Bobby Robson. Ousado, na forma como estruturou a equipa (o quase sacrilégio de jogar com três centrais), orientou uma selecção que foi responsável por alguns dos melhores jogos da prova. Frente aos Camarões, nos quartos-de-final (nunca uma equipa africana havia chegado tão longe num Mundial, muito à custa do fenómeno Roger Milla), só no prolongamento garantiu a vitória. A Inglaterra, que ficaria afastada da final ao perder com a Alemanha, nos penalties, forneceu ainda uma grande figura à competição: o fabuloso e excêntrico Paul Gascoigne.
A final, entre alemães e argentinos (os mesmos finalistas do México, em 1986), foi penosa. Má de mais para ser verdadeira. Foi, ao mesmo tempo, a imagem perfeita da prova: mau futebol e decisão numa grande penalidade altamente discutível. A Alemanha juntava-se ao Brasil e à Itália no restrito clube dos tricampeões do Mundo.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

México 86 - "Mão de Deus"

De Diego Maradona a Peter Shilton vão 20 centímetros de diferença e mais um braço esquerdo. Quando os dois saltam no ar, o 10 sobe bem mais alto, o guarda-redes de Inglaterra quase não descola do solo, a natureza dá-lhe uma vantagem lógica. Mas Maradona sobe, sobe, chega primeiro e faz a bola entrar na baliza.
Maradona tentou tabelar com Valdano, o passe é interceptado por Steve Hodge, que tenta o alívio e faz a bola voar na direcção de Peter Shilton. Maradona não desiste, a bola está no ar e o 10 salta com o guarda-redes de Inglaterra… agora, já sabemos todos, que usou o braço esquerdo para chegar primeiro.
No estádio, há que admiti-lo, muitos não terão visto. A começar, parece evidente, pelo árbitro. Mas as imagens e o “replays” não deixaram dúvidas.
O árbitro achou que Maradona tinha marcado de cabeça, o homem da bandeirinha dirigiu-se para o centro, Maradona correu para o público de braço… esquerdo no ar!
Comentou-se tudo, escreveram-se livros, manifestos e canções. O árbitro, Ali Bennaceur, o tunisino que naquele dia entrou para a história do futebol, pela porta dos fundos, tentou dividir culpas. Jura, até hoje, que o seu assistente, o búlgaro Dotschev, lhe garantiu o golo era lmpo. E conta que, durante anos, recebia pelo Natal, um postal de Dotschev, que repetia sempre a mesma mensagem: “não houve mão”. Bennaceur diz que, ainda hoje, não sabe se era a brincar.
Quando Maradona iniciou o arranque para a imortalidade, para o seu segundo golo à Inglaterra (o melhor golo de sempre), o planeta do futebol ainda não estava completamente refeito do embuste: “foi mão”!! Passaram quatro minutos entre um momento e outro, primeiro, o grande logro, depois, o golo de sonho de Maradona, nesse encontro dos quartos-de-final do México 86, que testemunhou dois dos mais memoráveis momentos da história do futebol.
A “Mão de Deus” virou lenda e ajudou a extremar posições sobre Maradona… Divino ou infame? Ou as duas coisas, juntas?



Vídeo 1 - "Mão de Deus" (BBC)



Vídeo 2 - "Mão de Deus"



Vídeo 3 - "Mão de Deus" (ângulo inverso)



Vídeo 4 - Câmeras inéditas

Geoff Hurst – golo com ponto de interrogação

Wembley assistia à decisão do Mundial de 1966, que opunha a Inglaterra e a Alemanha, quando o jogo já levava emoções suficientes. A “Mannschft” marcou primeiro, a Inglaterra reagiu com dois golos e começava a pensar na festa quando, Weber, aproveitando uma série de ressaltos, marcou o golo do empate, mesmo ao cair do pano.
Quando Hurst recebeu o passe de Alan Ball e rematou, para fazer a bola bater na parte de dentro da trave e cair sobre a linha de golo, havia que tomar uma decisão. O árbitro suíço Gottfried Dienst consultou Tofik Bakhramov, que não teve dúvidas… poucos, depois dele, conseguiram ter tantas certezas sobre aquele lance.
Jogava-se o minuto 101, quando Hurst rematou: bola na trave, depois sobre a linha… os jogadores rodearam o árbitro, os alemães diziam que não entrou, os ingleses que sim. Dienst validou o lance.
A Inglaterra via-se a vencer por 3-2 e aguentava as últimas investidas alemãs. Os fãs já não continham a impaciência. Nos instantes finais do prolongamento, Hurst ainda faria o quarto golo inglês, num remate sobre o lado esquerdo.
A Inglaterra vencia, pela primeira e única vez, o Mundial. Hurst passou de suplente, no início da competição, a cavaleiro, ganhando o título de “Sir”, antes do nome, além do estatuto de autor do único “hat trick” de uma final de um Mundial. O mundo continuou a discutir o seu segundo golo.
Há tantas opiniões como estudos, mais ou menos científicos, sobre aquele momento. Em 1995, a Universidade de Oxford recorreu a um programa de computador e a termos como linhas verticais, projecção e intersecção para concluir que a bola não entrou. Existem ainda programas informáticos aplicados à televisão que juram provar o contrário… que sim, a bola entrou.
O golo de Wembley, na final do Mundial de 1966, é lembrado de cada vez que acontece algo parecido. Nessa altura volta a falar-se de tecnologia, do que pode fazer-se para minimizar o erro humano. A FIFA já colocou um “microchip” na bola para testar um sistema que permita perceber se a bola atravessa, por completo, a linha… entretanto, suspendeu-o. E a discussão continua.
Geoff Hurst esteve na capital do Azerbeijão, em 2004, para descerrar uma estátua em memória de Tofik Bakhramov, o antigo fiscal-de-linha que estará sempre no coração de cada inglês, o homem por detrás do golo menos consensual de todos os Mundiais.



Vídeo 1 - Lance Geoff Hurst



Vídeo 2 - Lance Geoff Hurst



Vídeo 3 - Comercial Kit Kat, Golo Hurst



Vídeo 4 - Golo?!

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Ricardo Zamora, "El Divino"

Um guarda-redes lenda, Ricardo Zamora, “El Divino”, como o apelidaram. Apesar de Yashin, ainda há quem garanta que ele foi o maior de sempre.
Jogou soberbamente pela Espanha no Mundial de 1934. O mesmo fizera 10 anos antes, nos Jogos Olímpicos de Paris.
Basco, destacou-se no Espanhol e no Barcelona, e, em 1930 protagonizou transferência histórica, inimaginável para um país pobre como ainda era o seu: foi contratado pelo Real Madrid por 150 mil pesetas. Para que se perceba melhor a diferença, por essa altura a maior transferência do futebol português orçou 15 contos, na passagem de Vítor Silva do Hóquei para o Benfica!
D. Zamora não era espectacularmente alto, mas a capacidade de antecipação e a sua habilidade compensavam a estatura.
Porque todos os génios dormitam, em1931 passou por uma tarde de suprema humilhação, na lama de Highbury, sofrendo sete golos de uma violenta e empolgada selecção inglesa! Desconsolado, sentou-se na relva e desatou a chorar. Esteve assim longos minutos, até que os companheiros o foram buscar. As lágrimas continuavam, em catarata, pelo rosto… parecia que tinha deixado no campo o coração despedaçado. Mas nem isso lhe empanou o brilho. E em todos os livros de história, que falam das legendas do futebol lá está Zamora.
Ao longo de 20 anos de carreira, são muitas as exibições monumentais e as defesas impossíveis que se contam Zamora ter feito. Muitas delas, ganharam asas, apenas, no imaginário popular, mas, num histórico jogo, essas defesas, atingiram, seguramente, contornos épicos.Foi nos quartos-de-final do Mundial-34, contra a Itália de Meazza, em que Zamora defendeu tudo, perante o avassalador ataque azzurro, durante 120 minutos, garantindo o empate, 1-1, que levaria a decisão para um segundo jogo, onde, no entanto, Zamora, totalmente esgotado da exibição da véspera, não poderia alinhar, acabando a Espanha por ser eliminada, com Nogués na baliza. Como ele próprio escreveu nas suas memórias, Zamora, o lendário guarda-redes, morreu em 1936, com 35 anos. Ricardo, o comum mortal, desapareceria mais tarde. Sucederia em 1978, com 77 anos.



Vídeo - Ricardo Zamora

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

O melhor golo de sempre - México 86

“…and that’s why Maradona is the best player in the world!!!”
O narrador da BBC aumentou o tom de voz, à medida que a frase se aproximava do fim e a bola se dirigia para a rede. Ganhou fôlego para deixar as exclamações no ar… depois calou-se. Apenas as imagens do delírio de mais de 100 mil espectadores. E o silêncio, a deixar assentar o peso daquelas palavras definitivas: o melhor jogador do mundo acabara de marcar o melhor golo de todos os tempos. Nunca uma frase misturou, tão bem, incredulidade, inveja e admiração. Nunca um golo se aproximou tanto do divino.
Tudo começou numa recuperação de bola a meio-campo. Enrique recebeu com espaço, levantou a cabeça, viu o patrão marcado por Reid e Beardsley, mas fez o passe. De costas para a baliza, Maradona rodopiou sobre ele próprio e, em três toques, tomou a direcção certa, acelerando a cada passada. Levantou a cabeça, viu Valdano a avançar pelo meio, demasiado longe para a tabelinha. Sempre a acelerar, desviou-se de Butcher, que lhe saiu ao caminho, e, contrariando as leis da física, ganhou ainda mais velocidade com o desvio. Com o bafo de Peter Reid nas costas, entrou na área, pondo mais um inglês, Fenwick, a correr para o lado errado da história.
A pensar a 300 quilómetros por segundo, teve tempo para se lembrar de um lance parecido, cinco anos antes, em Wembley, quando rematou demasiado cedo, fazendo a bola sair um palmo ao lado do poste. No regresso à Argentina, o irmão mais novo, Turco, dissera-lhe, simplesmente: “Na próxima vez aguenta o remate mais tempo”. Tinha chegado a próxima vez, e Maradona iria fazer-lhe a vontade.
Peter Shilton, o guarda-redes inglês, então com 37 anos, até foi bastante rápido a sair dos postes. Em menos de três segundos estava fora da pequena área, a tapar todos os ângulos que a lógica permitia descobrir. Mas, nessa altura, Maradona já só obedecia à sua própria lógica, e a mais nenhuma. Seguindo o conselho de Turco, aguentou o remate e puxou a bola para o seu lado direito, deixando Shilton sentado no chão, a olhar para trás.
Faltava concluir e já não lhe restava muito tempo: Butcher tinha feito meia volta e investia sobre a sua camisola azul celeste como um touro. Por isso, o décimo segundo, e último toque, foi feito já em desequilíbrio, com a ponta do pé esquerdo, a antecipar-se, numa fracção de segundo, à perna esquerda do central inglês.
Assim que a bola tocou nas redes e o narrador da BBC se calou, Maradona levantou-se, ágil como um gato, e saiu a correr, rumo à bandeirola de canto, à sua direita. Não tinham passado, sequer, 12 segundos, desde aquele passe inocente, de Enrique, antes do meio-campo. Nunca, em toda a história da humanidade, alguém construíra uma catedral tão rapidamente. Muito menos, usando apenas o pé esquerdo.



Vídeo 1 - Golo de Maradona (câmara lenta)


Vídeo 2 - Golo de Maradona (comentários)



Vídeo 3 - Golo de Maradona (comentários BBC)

Golo de Tardelli – Mundial 1982

Num Santiago Barnabéu a abarrotar, a Itália cumpriu o destino. Bearzot, o treinador italiano, e os seus jogadores, passaram de vilões a heróis nacionais.
A squadra azzurra redescobria a estética de um futebol baseado, sobretudo, na eficácia e os alemães nada puderam fazer. Cabrinni ainda falhou um penalty, mas Rossi, Tardelli e Altobelli fizeram disparar o resultado para expressivos 3-0, que Breitner atenuou, ao cair do pano.
A comemoração de Tardelli, aquando da obtenção do seu golo, ficaria para sempre, na história do futebol, como o ícone do êxtase e da superação que o golo proporciona.
Vídeo 1 - Golo Tardelli
Vídeo 2 - Tardelli relembra o golo
Vídeo 3 - Final Mundial 1982 (Espanha)

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Banks defendeu um golo

Aos 10 minutos de jogo, de um empolgante Brasil vs Inglaterra, do Mundial de 1970, no México, tudo foi perfeito: o pique de Jairzinho na direita, a ganhar a linha de fundo a Cooper; o cruzamento tenso e preciso, de primeira; a incrível impulsão de Pelé, suspenso no ar; a cabeçada, a bater no chão, mesmo antes de chegar à linha…
Em condições normais, isto chegaria para descrever um dos melhores golos da história dos Mundiais. Mas não… chega para descrever a história do melhor “quase-golo” da história do futebol: o talento do guarda-redes Banks estava no sítio certo, na altura certa, para fazer a melhor defesa de todos os tempos. Um mergulho fulminante para a direita, o corpo esticado, na horizontal. Dada a potência do cabeceamento de Pelé, tocar na bola, antes de ela entrar, já seria uma proeza ao alcance de poucos. Desviá-la por cima da trave, com um reflexo inacreditável do braço direito, foi, simplesmente, um milagre. Um milagre “multiplicado” pelas intermináveis repetições da transmissão televisiva, e que, ainda hoje, resiste às leis da física e aos “frame-by-frame” dos DVD’s.
Anos mais tarde, Pelé resumiu o lance com uma frase quase tão perfeita como a própria jogada: “Banks foi o único guarda-redes que defendeu um golo meu!”. É justo que fique assim: aquele lance foi mesmo golo para toda a gente… menos para Banks.


Vídeo - Banks vs Pelé, Mundial 1970, México


Vídeo - Comercial, Banks vs Pelé

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Final Taça Campeões Europeus (1985) - Tragédia Heysel Park

A tragédia no Estádio do Heysel, na Bélgica, ocorreu no dia 29 de Maio de 1985, quando se ia disputar a final da Taça dos Campeões Europeus, que opunha o Liverpool e a Juventus.
A possibilidade de confrontos entre os adeptos, de ambas as equipas, foi, desde início, ponderada pelas autoridades belgas, que anunciaram uma série de medidas a tomar… proibição da venda de bebidas alcoólicas em estabelecimentos próximos do estádio; revista a todos os espectadores, à entrada para o jogo; um total de 1500 policias para salvaguardar a segurança. No entanto, a maior parte dos bares continuou a trabalhar normalmente e a servir os hooligans, de ambas as equipas.
Os distúrbios começaram ainda fora do estádio, com ingleses e italianos a trocarem provocações. Por volta das 19 horas, uma grande parte dos espectadores já se encontrava dentro do recinto do Heysel.
Muitos adeptos italianos tinham adquirido bilhete para uma secção neutra, próxima do espaço concedido aos adeptos do Liverpool.
Contrariamente ao previsto, pela polícia, o lado norte do estádio estava partilhado por adeptos das duas formações, separados apenas por uma pequena barreira e alguns polícias.
O lançamento de foguetes e petardos, por parte dos italianos, precipitou os acontecimentos. Os furiosos hooligans ingleses começaram a correr e a carregar sobre todos os adeptos que se encontravam naquela faixa, empurrando-os para uma parede, que se viria a desmoronar, causando as mortes por esmagamento e asfixia.
As grades que separavam as bancadas cederam à pressão humana e deram lugar à tragédia. Dezenas de espectadores italianos foram “espezinhados” por hooligans, que usaram barras de ferro para bater nos “adeptos rivais”. Com a pressão dos espectadores em pânico, o muro caiu, arrastando na queda mais algumas dezenas de pessoas.
A expectativa em relação ao jogo era grande… e a UEFA decidiu-se pela realização do jogo.
O balanço final da tragédia apontou 38 mortos e um número indeterminado de feridos. A polícia não efectuou nenhuma detenção.
Os hooligans ingleses foram responsabilizados pelo incidente, o que resultou na proibição das equipas britânicas participarem em competições europeias, por um período de cinco anos.
As reacções do povo inglês foram todas no sentido da reprovação e incredulidade pelos actos violentos dos adeptos do Liverpool, o que levou, a própria rainha, Isabel II, a condenar, publicamente, o comportamento dos hooligans e a apoiar a suspensão das equipas inglesas.
A Bélgica também foi punida pela UEFA. O país ficou proibido de organizar finais de competições europeias, por um período de 10 anos.
O jogo, em si, ficou em segundo plano… mas acabou com a, nada comemorada, vitória da Juventus por uma bola a zero, com um golo de grande penalidade, apontada por Michel Platini, a grande estrela do clube italiano.



Vídeo - Tragédia Heysel Park (RAI)


Vídeo - Resumo Jogo da Final


Mundial 1982 (Espanha) - Xeque invade relvado

No mínimo, insólito, o que sucedeu no França vs Kuwait, no Mundial de 1982, em Espanha.
Na sequência de um lance que culminou em golo francês, o xeque Fahid Al-Sabah, presidente da federação de futebol do Kuwait, desceu da tribuna, entrou em campo, e mandou retirar a sua selecção do relvado. Gerou-se a confusão…indescritível. Perante o ar incrédulo do juiz da partida, o soviético Miroslav Stupar.
O xeque regressaria ao seu lugar, o jogo haveria de prosseguir, depois de alguns minutos de interrupção. Surpresa das surpresas, e para ser maior o escândalo, o Árbitro acabou por invalidar o golo (legal), dos franceses. A FIFA não deixaria passar o caso, sem punir Stupar.



Vídeo 1 - Xeque invade relvado


Vídeo 2 - Xeque invade relvado

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

John Langenus, Árbitro da Final do 1º Mundial

Árbitro belga, que também se identificava como Jan, Jean, Johannes ou Julian, nasceu em Berchem (Antuérpia) a 8 de Dezembro de 1891, onde faleceu no dia 1 de Outubro de 1952, com 60 anos de idade.
Não foi por acaso que a FIFA o nomeou para dirigir a primeira final dum mundial de futebol, dado que foi levado em consideração a sua experiência, o seu perfil e, acima de tudo, a sua forte personalidade, aliada à sua compleição física.
Como Árbitro de futebol, participou em três mundiais (Uruguai, em 1930; Itália, em 1934; França, em 1938), e nos Jogos Olímpicos de Amesterdão, em 1928, onde apitou o jogo de atribuição da medalha de ouro.

Dirigiu o seu primeiro encontro internacional, em 25 de Fevereiro de 1923, com 32 anos de idade. Até se retirar, em 1939, com 48 anos, arbitrou 63 partidas entre selecções…números inéditos para a altura.
Ficou célebre, para a história do futebol, por duas determinações: a exigência de um seguro de vida, para si e para os seus auxiliares, para poderem actuar no jogo da final, no Uruguai, e a decisão de fazer disputar, cada uma das partes da final (disputada por Uruguai e Argentina), com bolas diferentes, indicadas pelas equipas.
Sabendo da rivalidade aguçada que alastrava entre Uruguai e Argentina, a FIFA escolheu, para a final, o árbitro belga John Langenus.
Dada a expectativa que o jogo desencadeou, o árbitro pediu protecção policial… durante 24 horas. Foi-lhe concedida.
A polémica começou logo no início do jogo, em torno da bola. Cada equipa queria que a sua fosse utilizada. Langenus, salomónico, decidiu: cada bola em sua parte… o que faria “jurisprudência”, até aos dias de hoje. Dado o inédito, da decisão, o sorteio foi a fórmula encontrada, e a bola argentina foi a primeira a ser utilizada, sendo a bola do Uruguai a bola do segundo tempo.
Duas notas finais: o Uruguai venceu, por quatro bolas a duas; destaque, nas fotos da Final, para a indumentária do Árbitro… as calças, tipo golfe, o boné, o casaco, com largas algibeiras, e a sua famosa gravata! Um espanto…



Vídeo 1 - Final 1930


Vídeo 2 - Final 1930

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Humberto Coelho

Humberto Manuel Jesus Coelho, que vestiu a camisola encarnada pela primeira vez a 30 de Outubro de 1966, num jogo de juniores com o Oriental, chegou à primeira equipa benfiquista em 8 de Agosto de 1968, frente ao Remo FC, em jogo de uma digressão pelo Brasil. A 27 de Outubro, do mesmo ano, estreava-se na Selecção frente à Roménia.
A partir daí, seguiu o caminho do excepcional jogador que prometia ser e... foi. Não dispunha de grandes dotes técnicos mas tinha tudo aquilo de que um central precisa: boa visão de jogo, óptimo sentido posicional, velocidade, argumentos extraordinários no jogo aéreo, grande poder físico e uma voz de comando ao nível dos grandes líderes do futebol. Se Germano de Figueiredo foi, no conceito geral, o melhor defesa nascido em Portugal, Humberto vem naturalmente a seguir.
No auge chamaram-lhe o “Beckenbauer português”, no que pode ser entendido como um elogio ao peso relativo nas equipas que representava e explicado por jogarem ambos na mesma posição. Humberto tinha menos classe mas em contrapartida era mais central, no sentido de ser mais agressivo, mais forte nos duelos individuais. E tinha outra arma poderosa, tantas e tantas vezes decisiva: a facilidade de subir no terreno e aparecer na grande área fazendo prevalecer o jogo de cabeça. Se não marcava, a forma como surgia ao primeiro poste permitia a criação de inúmeras situações de golo.
O domínio de todos os passos do jogo conduziu-o temporariamente à posição de médio.
Entre 1975 e 1977 jogou no Paris Saint-Germain mas acabou por regressar à Luz, onde permaneceu até ao doloroso final de carreira, na época 1983/84.
Humberto Coelho, um dos expoentes máximos da sua geração, desperdiçou todos os Mundiais e Europeus. Na última época em pleno, a caminho dos 33 anos, garantiu presença numa final europeia (a Taça UEFA, perdida para o Anderlecht, em 1982/83).
À segunda jornada do campeonato 1983/84 lesionou-se com gravidade, num joelho, em vésperas do Portugal-Finlândia, do apuramento para o Europeu de França. O desejo de recuperar depressa, a tempo de estar apto a terminar em beleza, acabou por ser-lhe fatal. Ele próprio reconheceu que devia ter ido mais devagar. Se o tivesse feito, talvez o Benfica e a Selecção pudessem ter contado com ele durante mais algum tempo.
Como treinador, Humberto Coelho cumpriu o objectivo de levar Portugal ao Europeu de 2000. Aos 50 anos, como treinador, chegou ao grande palco, que lhe faltou ao longo de uma fabulosa carreira como jogador.

Germano de Figueiredo

Não foi o mais brilhante, não teve tempo para ser o mais decisivo, mas foi, seguramente, um dos expoentes máximos do futebol português e europeu. Ninguém leva a mal se o considerarmos o melhor defesa-central nacional de sempre, o de maior classe, o mais preponderante, aquele que reunia mais qualidades: Germano de Figueiredo.
Nasceu em Alcântara no dia 23 de Dezembro de 1932. Em 1947 já actuava nas camadas jovens do Atlético e cinco anos depois, com 20 anos, já era titular da equipa principal.
No ano seguinte, em 1953, chegou à Selecção Nacional, entrando para o lugar de Fernando Cabrita numa partida com a Áustria (0-0).
Tinha tudo acertado com o Sporting quando lhe foi detectada grave doença pulmonar. Esteve internado, temeu-se pela carreira e o mesmo raciocínio seguiram os dirigentes leoninos, que se desinteressaram da sua contratação.
Em 1960, com 28 anos, assinou pelo Benfica. A glória estava à sua espera. Uma glória que soube sempre entender como efémera e atrás da qual só correu por obrigação, olhando muito para o jogo e pouco para si.
Germano começou por ser avançado… e avançado chegou à Selecção, da qual esteve afastado entre 1955 e 1960, pelas razões já explicadas.
Fixou-se mais tarde a central. E foi nessa posição que conheceu as páginas mais brilhantes da sua vida desportiva. Germano de Figueiredo foi o primeiro jogador total, ao mais alto nível, que o futebol português conheceu, um extraordinário polivalente.
Na final da Taça dos Campeões de 1964/65, em S. Siro, depois de ter actuado a avançado, a médio e a defesa, foi obrigado a jogar a guarda-redes. Aos 57 minutos do jogo com o Inter, Costa Pereira lesionou-se e teve de abandonar o terreno. Num tempo em que não havia substituições, Germano assumiu a baliza encarnada. Pela frente tinha mais de meia hora de jogo. Não sofreu golos e, mais importante, teve duas ou três intervenções dignas de um guarda-redes com excelentes recursos… surpresa para muitos mas não para quem o conhecia do dia-a-dia, aqueles que sabiam, de fonte segura, que era tão bom, nessa posição, como nas outras.
A caminho de completar 33 anos, Germano de Figueiredo ainda esteve presente na fase final do Mundial de 1966, tendo actuado apenas no jogo frente à Bulgária. Quando regressou de Inglaterra teve a desagradável surpresa: Fernando Riera não contava com ele para a época seguinte. Foi para o Salgueiros.
Na final de 1968, em Wembley, fazia parte, juntamente com Fernando Cabrita, da equipa técnica comandada por Otto Glória. Manteve-se afastado do futebol, com aquele olhar triste que o acompanhou ao longo da vida.
Um dos maiores jogadores que este país conheceu. Um homem íntegro, que na altura de quebrar o silêncio de 30 anos, em entrevista a A BOLA Magazine, falou assim do responsável pelo fim de uma carreira excepcional: «(...) Fernando Riera foi um grande treinador, uma pessoa amável, profundo conhecedor do futebol, incapaz de cometer injustiças no relacionamento com os jogadores



Vídeo - Final TCE 64/65, Inter vs Benfica

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Mário Coluna

Chamaram-lhe "Monstro Sagrado". E ficou para sempre. Mário Esteves Coluna, o melhor médio da história do futebol português, um nome é recordado um pouco por todo o lado como um dos mais extraordinários jogadores do Mundo. A World Soccer (Inglaterra) e a Calcio 2000 (Itália), por exemplo, conceituadas revistas da modalidade, elegeram-no um dos melhores 100 futebolistas do século XX.
Foi o cérebro, o pulmão e o coração do Benfica dos anos dourados e da Selecção que brilhou no Mundial de 1966. Foi um jogador único, um líder de corpo inteiro, cuja dinâmica lhe permitiu assumir peso determinante nas equipas em que actuava.
Não sendo muito rápido, tinha tudo o resto: inteligência, visão de jogo, técnica refinada, talento para jogar curto ou longo, mediante as necessidades, e até para conduzir a bola, em progressão. Dispunha, também, de apurada intuição para se movimentar junto à área adversária. Se juntarmos a isso o forte remate que possuía, percebemos que estamos a falar, igualmente, de um temível jogador de ataque… tal como José Águas, marcou nas duas finais europeias ganhas pelo Benfica. Efeitos de uma carreira que iniciou ocupando a posição de avançado-centro.
Na final de Wembley, com o Milan, Coluna preparava-se para a terceira vitória consecutiva. Estava com 28 anos (nasceu a 6 de Agosto de 1935) e era um dos jogadores mais temidos por Nereo Rocco, treinador dos italianos. Jamais se irá saber se foi premeditado ou não. O facto é que Giovanni Trapattoni teve sobre ele entrada ríspida que lhe rachou um pé. Esteve a ser assistido, enquanto o jogo decorria, durante 15 minutos e voltou para fazer apenas figura de corpo presente, encostado à linha, sem se poder mexer. Mário Coluna não tem dúvidas: «A intenção foi arrumar-me. Passados uns anos a RAI convidou-me para um programa evocativo dessa final. Estive lá eu e o Altafini (autor dos dois golos do Milan); o Trapattoni foi convidado e não apareceu.» Já depois disso, Trapattoni confessou que a final de Wembley, a despeito da alegria pela vitória, é uma mancha na sua carreira como jogador.
Coluna, que perdeu todas as finais em que actuou como capitão, terminou a carreira a jogar a central, cumprindo o percurso natural num jogador com as suas características.
A última época ao serviço do Benfica foi em 1969/70 (caminhava para os 35 anos). Ainda fez 15 jogos e marcou um golo. Quando Otto Glória abandonou, à 18.ª jornada, foi José Augusto quem assumiu o comando da equipa. E foi o antigo companheiro de muitas batalhas quem o dispensou.
Saiu da Luz no final da época. Triste mas com a cabeça levantada, ainda passou pelo Lyon. Nada que possa ofuscar o que dele fica para a história: o "Monstro Sagrado" do futebol português.

Mundial 1982 (Espanha) – Bárbara agressão a Batiston

A RFA garantiu o acesso à Final da competição numa partida dramática, eliminando a França, nas grandes penalidades.
No entanto, este encontro ficou marcado pela bárbara agressão do guarda-redes Shumacher a Battiston, depois de o francês ter cabeceado a bola para a baliza (a bola ultrapassou a linha final, junto ao poste).
Battiston perdeu os sentidos, esteve internado (comoção cerebral e perda de três dentes, embora, na altura do choque se chegasse a acreditar que seria bem mais grave… Platini referiu, mais tarde, que ele “estava pálido e não se sentia o seu pulso”); só ao cabo de algumas semanas retomou a vida normal.
O holandês Corver (Árbitro do encontro), não fez o que devia: expulsar Shumacher e punir a respectiva infracção… agiu como se nada tivesse acontecido.
Rever as imagens, hoje, só acentua o que na altura já parecia evidente: tratou-se de um escândalo!
Anos depois, numa atitude de notável cavalheirismo, Battiston, não só desculpou o temperamental "camisa 1 da nationalmannschaft", como o convidou para seu casamento. Mesmo assim, Schumacher tornou-se uma figura tão detestada pelos franceses que, numa pesquisa feita pelo jornal francês Le Fígaro, após o Mundial de 1982, sobre qual era o "homem mais odiado da França", Schumacher derrotou Adolf Hitler!!



Vídeo 1 - Agressão de Shumacher a Battiston

Vídeo 2 - Agressão de Shumacher a Battiston


Vídeo 3 - Resumo 1/2 Final, RFA vs França

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Franz Beckenbauer

Quando Franz Beckenbauer ergueu a taça correspondente ao título Mundial de 1974, era já um dos melhores jogadores do Mundo, grande revelação em 1966, figura indiscutível em 1970, referência máxima do Bayern Munique que, nesse ano, interrompeu o domínio de três épocas consecutivas do Ajax, na Taça dos Campeões.
Começou por ser um médio fabuloso, fino, elegante, de larga visão de jogo e apurada técnica, que tinha, na perfeição do passe, a arma principal.
Entre o Mundial do México e o da RFA, tempo que o aproximou da casa dos 30 anos (nasceu a 11 de Setembro de 1945), recuou no terreno, passando a ocupar a posição de central.
Um dia, perguntaram a Helénio Herrera, o que era, verdadeiramente, o líbero. Respondeu, evocando princípios do jogo, aspectos genéricos do funcionamento da equipa, benefícios da vantagem numérica da defesa sobre o ataque e dos desequilíbrios que esse jogador a mais devia criar subindo no terreno… anos depois, à mesma questão, respondeu de outra forma: «O líbero é Beckenbauer
Foi, de facto, o expoente máximo do jogo, no desempenho de determinado papel, em que defender significa, também, construir. Ao kaizer, como ficou conhecido pela classe Imperial, própria de quem tinha, do jogo, uma concepção global e um sentido estético apurado… o futebol deve uma nova dimensão em todos os aspectos para os defesas, vistos desde sempre como os parentes pobres do jogo pelas limitações técnicas superadas à custa de maior dureza e de marcações tantas vezes impiedosas.
Hoje, em tempo de balanço do século XX, a quase totalidade dos maiores de entre os grandes ou foram goleadores natos ou artistas que se movimentavam na zona de ataque. Beckenbauer está sozinho entre eles. Foi tricampeão europeu de clubes e campeão do Mundo com a braçadeira de capitão, número 5 nas costas, actuando no eixo da defesa. Inesquecíveis as imagens daquele senhor que andava em campo sempre de cabeça levantada, desarmava com pezinhos de lã, só em último recurso se atirava para o chão (o que ainda hoje vale como um dos princípios básicos de um bom central), tinha a impressionante facilidade de pegar na bola e subir no terreno, colocava-a onde e como queria, a três ou a trinta metros, tanto fazia.
Na época, o mundo não resistiu ao fascínio do futebol inovador da Holanda e ao génio de Johan Cruyff, considerado nesse ano o melhor jogador europeu. Beckenbauer discutiu o título de maior figura da prova. Bem vistas as coisas, porém, a actuação serena na final, em contraste com os exageros cometidos pelo holandês, quando viu o troféu a fugir-lhe, acaba por ser-lhe favorável.
Em fim de carreira, Beckenbauer seguiu para os Estados Unidos, onde desempenhou papel importantíssimo no crescimento do jogo naquele país.
Quis um dia ser treinador. E foi. Com êxito, naturalmente. Em 1990 voltou a conhecer a glória suprema ao conduzir a Alemanha ao título mundial… só ele e Mário Zagallo conseguiram ser campeões do Mundo em funções diferentes.



Vídeo 1 - Beckenbauer


Vídeo 2 - Beckenbauer