sábado, 24 de janeiro de 2009

Johan Cruyff

Rinus Michels elegeu-o entre as dezenas de miúdos que encontrou quando regressou ao Ajax para orientar as camadas jovens de um clube pelo qual passara como jogador. Estávamos em 1963, tinha Johan Cruyff 16 anos (nasceu a 25 de Abril de 1947), de uma vida passada, toda ela, ao lado do De Meer, velho estádio que seria demolido já nos anos 90.
Um ano depois, Michels foi promovido à equipa principal. E levou com ele a jóia da coroa. Em 1964/65, com 17 anos, Cruyff estreou-se na I Divisão holandesa.
Toda a dimensão do futebol total havia de crescer com ele. Quando atingiu a maturidade plena, por volta dos 23/24 anos, à sua volta girava uma das mais avassaladoras máquinas que o futebol conheceu. Nessa altura, Johan já era o melhor da Europa (eleito Bola de Ouro em 1971, 1973 e 1974), um dos melhores do Mundo e um jogador para a eternidade, como tinham sido Puskas, Di Stefano, Pelé e Eusébio. Os fundamentos do jogo inovador, nascido a partir do laboratório holandês, têm várias formas de explicação, mas uma não oferece dúvidas: precisava imperiosamente de um líder em campo. E esse líder foi Johan Cruyff, génio na execução e na concepção (como viria a mostrar mais tarde quando passou a treinador), físico potenciado para lá dos limites imagináveis, em função da estrutura genética. Era um portento de velocidade, tinha resistência e potência surpreendentes para aquele corpo franzino, dominava todas as zonas do terreno, todas as fases do jogo e revelou noção colectiva extraordinária, não obstante ter sido, em todas as equipas em que actuou, a figura mais brilhante, a estrela da companhia. Por isso, sempre que lhe perguntavam qual tinha sido o melhor jogador do Mundo, não respondia Pelé mas Di Stefano, «porque era mais completo».
Johan Cruyff deu ao futebol uma dimensão diferente. O grande Ajax começou em Michels, acabou em Kovacs mas encontrou nele o elo de ligação indiscutível. Foi tricampeão europeu e saiu para o Barcelona.
Em 1973/74 partiu ao encontro da fortuna. Foi campeão de Espanha, na mesma época em que o Ajax perdia o domínio do futebol europeu, eliminado pelo CSKA Sófia à 2.ª eliminatória.
No Mundial de 1974 brilhou a laranja mecânica. E brilhou Cruyff. Vinte anos depois da Hungria de Puskas a história repetia-se: a Holanda inovadora e espectacular cedeu na final, curiosamente perante o mesmo carrasco, a Alemanha. Seria a primeira e última vez que o génio pisaria o grande palco. Em 1978, com 31 anos, nem a rainha da Holanda o demoveu da intenção de não actuar na Argentina.
Jogaria até 1984. Ironia do destino: depois de passagem pelos Estados Unidos acabaria no... Feyenoord. Nessa época, actuando mais recuado, levou o rival à dobradinha. Terminava vitoriosa uma carreira em cujo palmarès só faltou o triunfo no Mundial. O resto é impressionante: oito campeonatos e cinco taças da Holanda; três Taças dos Campeões; uma Taça Intercontinental; um campeonato e uma taça de Espanha; duas Supertaças Europeias.
Pelo excepcional jogador que foi e pelo treinador revolucionário que havia de ser, Johan Cruyff chegou ao fim do século XX como a maior figura do futebol dos últimos 30 anos.



Vídeo - Johan Cruyff

Sem comentários: