sábado, 24 de janeiro de 2009

Carlos Gomes

Carlos Gomes tinha 18 anos quando se transferiu do Barreirense para marcar, definitivamente, o futebol português e, mais importante, toda uma geração.
Como guarda-redes, Carlos Gomes foi um monstro, talento às carradas, uma compleição física impressionante, elegância incomparável em tudo o que fazia em campo. O temperamento rebelde, a irresistível tentação de não calar a revolta com quem e quando quer que fosse, conduziram-no a uma vida agitada, que transportou muitas vezes para as quatro linhas.
Irreverente e inovador (garante quem o viu, ter nascido um bom par de anos adiantado no tempo), Carlos Gomes foi um grande ídolo dos adeptos do futebol e, principalmente, dos sportinguistas.
A sua vida no Sporting não foi pacífica. Na justa defesa dos seus interesses, entrou em rota de colisão com alguns dos mais importantes dirigentes do clube, a maior parte deles, figuras gradas do antigo regime.
Em 1958, com 26 anos, na plenitude das faculdades físicas e técnicas, foi transferido para o Granada (por um milhão de pesetas!), já sob o espectro de ser opositor do Estado Novo. Seguiu para o Oviedo de onde regressou, em 1961, a Portugal. Não chegou a acordo com o Sporting, pretendeu ir para o Salgueiros (dizia-se que seria ponto de passagem para o Benfica...), acabou no Atlético.
Acusado de violação, que sempre negou ter cometido, atribuindo à PIDE uma cilada para o apanhar, fugiu para Marrocos. Foi no intervalo de um Atlético-Vitória de Guimarães. Tudo preparado, com a conivência dos responsáveis alcantarenses: simulou uma lesão, foi para a cabina e escapou-se. Marrocos foi o seu destino.
Até final da carreira ainda passou pela Argélia e pela Tunísia.
Todos perderam com tanta agitação: o próprio Carlos Gomes, os adeptos (que deixaram de o ver), e o futebol português.
A 7 de Maio de 1958 fez o último jogo pela Selecção. Em 1966 teria 34 anos. Menos um que o titular português no Mundial de Inglaterra, José Pereira.

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