terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

O melhor golo de sempre - México 86

“…and that’s why Maradona is the best player in the world!!!”
O narrador da BBC aumentou o tom de voz, à medida que a frase se aproximava do fim e a bola se dirigia para a rede. Ganhou fôlego para deixar as exclamações no ar… depois calou-se. Apenas as imagens do delírio de mais de 100 mil espectadores. E o silêncio, a deixar assentar o peso daquelas palavras definitivas: o melhor jogador do mundo acabara de marcar o melhor golo de todos os tempos. Nunca uma frase misturou, tão bem, incredulidade, inveja e admiração. Nunca um golo se aproximou tanto do divino.
Tudo começou numa recuperação de bola a meio-campo. Enrique recebeu com espaço, levantou a cabeça, viu o patrão marcado por Reid e Beardsley, mas fez o passe. De costas para a baliza, Maradona rodopiou sobre ele próprio e, em três toques, tomou a direcção certa, acelerando a cada passada. Levantou a cabeça, viu Valdano a avançar pelo meio, demasiado longe para a tabelinha. Sempre a acelerar, desviou-se de Butcher, que lhe saiu ao caminho, e, contrariando as leis da física, ganhou ainda mais velocidade com o desvio. Com o bafo de Peter Reid nas costas, entrou na área, pondo mais um inglês, Fenwick, a correr para o lado errado da história.
A pensar a 300 quilómetros por segundo, teve tempo para se lembrar de um lance parecido, cinco anos antes, em Wembley, quando rematou demasiado cedo, fazendo a bola sair um palmo ao lado do poste. No regresso à Argentina, o irmão mais novo, Turco, dissera-lhe, simplesmente: “Na próxima vez aguenta o remate mais tempo”. Tinha chegado a próxima vez, e Maradona iria fazer-lhe a vontade.
Peter Shilton, o guarda-redes inglês, então com 37 anos, até foi bastante rápido a sair dos postes. Em menos de três segundos estava fora da pequena área, a tapar todos os ângulos que a lógica permitia descobrir. Mas, nessa altura, Maradona já só obedecia à sua própria lógica, e a mais nenhuma. Seguindo o conselho de Turco, aguentou o remate e puxou a bola para o seu lado direito, deixando Shilton sentado no chão, a olhar para trás.
Faltava concluir e já não lhe restava muito tempo: Butcher tinha feito meia volta e investia sobre a sua camisola azul celeste como um touro. Por isso, o décimo segundo, e último toque, foi feito já em desequilíbrio, com a ponta do pé esquerdo, a antecipar-se, numa fracção de segundo, à perna esquerda do central inglês.
Assim que a bola tocou nas redes e o narrador da BBC se calou, Maradona levantou-se, ágil como um gato, e saiu a correr, rumo à bandeirola de canto, à sua direita. Não tinham passado, sequer, 12 segundos, desde aquele passe inocente, de Enrique, antes do meio-campo. Nunca, em toda a história da humanidade, alguém construíra uma catedral tão rapidamente. Muito menos, usando apenas o pé esquerdo.



Vídeo 1 - Golo de Maradona (câmara lenta)


Vídeo 2 - Golo de Maradona (comentários)



Vídeo 3 - Golo de Maradona (comentários BBC)

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