terça-feira, 5 de maio de 2009

Mundial 1990 (Itália) - Alemanha tricampeã

Para esquecer. É a conclusão global do Campeonato do Mundo de Itália (1990), em que, para a história, não apresentou uma grande selecção e no qual, a figura maior, foi Lothar Mathäus, facto em si mesmo indiciador da pouca qualidade da prova. O alemão, que não possuía o talento dos predestinados, potenciou o seu futebol à custa de muito trabalho físico, dedicação ao jogo e inteligência na forma como assimilou os ensinamentos dos vários mestres que o orientaram, desde a primeira hora. Foi, muito provavelmente, a primeira grande figura de um Mundial que não obedecia a requisitos estéticos, à magia e ao génio dos artistas mais brilhantes. Nada contra o eterno Mathäus, que muito trabalhou para chegar ao topo do Mundo, que foi grande à sua custa, que conseguiu tudo pelo trabalho. Mas a concepção do que é um jogador para a lenda obriga a maior exigência de classe natural, daquela arte que nasce incorporada.
O Mundial de Itália marca um retrocesso evidente: menos golos, menos magia, mais equipas a jogar para não perder e até esse pormenor de ter mostrado menos Maradona. O astro que iluminara o México-86 estava com mais quatro anos e dava sinais de menor frescura, apesar de manter o estatuto de maior esperança e ponto de referência intocável da selecção argentina, que em 1990, por sua vez, tinha ainda menos qualidade que quatro anos antes. Apesar de tudo, Maradona ainda deixou as suas marcas. Nos oitavos-de-final, foi dele o rasgo que permitiu a Caniggia eliminar o Brasil. Um jogo paradigmático do certame: domínio total dos brasileiros, ataque contínuo, três vezes a bola no ferro da baliza de Goycoechea e vitória argentina na única investida, digna desse nome, à baliza de Taffarel.
Os italianos foram cumprindo a obrigação, jogando bom futebol, a espaços. A certa altura, descobriram o goleador inesperado, Salvatore Schillaci, que havia de tornar-se paixão do povo. O percurso dos organizadores da prova permitiu-lhes atingir as meias-finais. O adversário era a Argentina, o local do jogo era Nápoles, dos amores de Diego Armando. Um jogo Intenso, decidido a favor dos sul-americanos, na marcação de grandes penalidades (Goycoechea decisivo, como já tinha sido com a Jugoslávia).
Excelente o percurso da Inglaterra de Bobby Robson. Ousado, na forma como estruturou a equipa (o quase sacrilégio de jogar com três centrais), orientou uma selecção que foi responsável por alguns dos melhores jogos da prova. Frente aos Camarões, nos quartos-de-final (nunca uma equipa africana havia chegado tão longe num Mundial, muito à custa do fenómeno Roger Milla), só no prolongamento garantiu a vitória. A Inglaterra, que ficaria afastada da final ao perder com a Alemanha, nos penalties, forneceu ainda uma grande figura à competição: o fabuloso e excêntrico Paul Gascoigne.
A final, entre alemães e argentinos (os mesmos finalistas do México, em 1986), foi penosa. Má de mais para ser verdadeira. Foi, ao mesmo tempo, a imagem perfeita da prova: mau futebol e decisão numa grande penalidade altamente discutível. A Alemanha juntava-se ao Brasil e à Itália no restrito clube dos tricampeões do Mundo.